Santarém vestiu as cores da recém conquistada liberdade e agradeceu aos homens que foram a Lisboa ajudar a derrubar uma ditadura que dominou o país durante quase meio século.
As ruas de Santarém encheram-se de gente na tarde de 29 de Abril de 1974 para festejar uma liberdade conquistada quatro dias antes. A multidão juntou-se para agradecer aos militares que foram até Lisboa na madrugada de 25 de Abril na coluna de viaturas saída da Escola Prática de Cavalaria (EPC), e que acabaram por ter uma acção decisiva na deposição do Estado Novo, regime que governou o país desde 1926.
Convocada pela Comissão Democrática Eleitoral (CDE) de Santarém, para as 19h00, a manifestação atraiu ao planalto escalabitano milhares de pessoas vindas de vários pontos da região. A banda filarmónica de Alpiarça marcou presença e foi responsável por animar o dia e recordar temas e músicas há muito proibidas.
Uma abrangente delegação da EPC, formada pelo capitão Salgueiro Maia, alferes Maia Loureiro, furriel Costa e pelo soldado Carlos Pereira, em representação de todas as classes de militares envolvidos no golpe de Estado, foi recebida no edifício da Câmara Municipal de Santarém, onde foi homenageada pelas entidades locais.
A partir da varanda do primeiro andar do edifício dos Paços do Concelho, o então capitão Fernando Salgueiro Maia leu a proclamação saída da primeira reunião da Junta de Salvação Nacional, entidade que geriu os destinos do país até à realização das primeiras eleições livres, que teriam lugar a 25 de Abril de 1975.
Os discursos não se ficaram por aqui. Registaram-se ainda intervenções de diversas figuras da cidade que falaram para uma multidão que nunca parou de aclamar a liberdade, as forças armadas e, sobretudo, Portugal.
Abril emoções mil
Carlos Marecos, com 25 anos na época, apaixonado pela fotografia desde a adolescência, registou em película a alegria desse dia. “Nunca tinha visto nada assim, vivemos um turbilhão de emoções fantásticas”, lembra. Ainda hoje, diz não ter “memória de ter assistido a uma confusão tão grande na cidade”.
Já com o Serviço Militar Obrigatório cumprido, em cenário de guerra, na Guiné, entre Março de 1970 e Junho de 1971, de onde foi evacuado para o Hospital Militar de Lisboa, por ter contraído hepatite, recorda que “todos tínhamos uma esperança imensa que as coisas mudassem”.
O advogado João Luís Madeira Lopes, que integrava na altura a CDE de Santarém, recorda que este movimento que reunia diferentes forças da oposição, encontrava-se “organizado desde 1969”, após ter sido “constituído para participar nas eleições legislativas, apresentando listas de democratas, em oposição ao ‘Estado a que isto chegou’ em 1969 e 1973”.
Após o 25 de Abril de 1974, a mesma CDE, foi ainda responsável por “coordenar a substituição dos executivos autárquicos, dando os primeiros passos para o Poder Local”, lembra o jurista de Santarém. Carlos Quintino
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